Agente Cãofidencial Nº1

Bom dia! E um dia muito bom. Sabe porquê?

Hoje é o Dia do Quadrinho Nacional! Não sabia, né? Bom, está informado. E que maneira melhor de comemorar a data do que com mais um quadrinho das antigas que você vai começar a dar algum pensamento.

Vamos de Agente Cãofidencial, uma das muitas tralhas que Marcelo Cassaro trouxe na época que produzia mais que fábrica de chocolate na Páscoa. É, aquele Marcelo Cassaro. De Holy Avenger, Street Fighter, da terceira versão da Heróis da TV, das revistinhas dos Trapalhões e do Pequeno Ninja, da Dragão Brasil, Turma da Mônica, TMJ, Chico Bento Moço...fora algumas coisas muito toscas, mas, já deu pra captar.

Vamos logo com a revista, que ganhamos mais tempo. Fique com o primeiro e único número da paródia de espiões que vai te deixar com a pulga atrás da orelha sobre o que realmente fazem com seu cachorro no pet shop da esquina! 

 

“Relatório T.E.I.A”

Estamos numa das centenas de bases da S.S.I. (Serviço Secreto Inimigo), localizadas em pontos inóspitos do globo. Porque trabalhar numa base de vilões que fica ao lado da BD Brinquedos ou da Padoka do Seu Juaquim queimaria seu currículo como capanga do mal e possibilidade de ascensão como praça, tenente ou mesmo sargento do mal. Em tempo, o lugar é mais lotado de guardas que um formigueiro e à prova de invasões...

...exceto se você for James Hound, que passou na prova sem colar! Ou talvez tenha colado, espiões jogam sujo, não importa pra quem trabalhem. James casseteia todos soldadinhos do lugar, furta alguma informação secreta, tosta à laser mais alguns (porque laser doía menos que balas de verdade?) e escapa do lugar saltando dramaticamente pela janela, onde uma escada de cordas o espera. É sempre bom ter um helicóptero na outra ponta da escada nessas horas!

Cumprimentando seu colega de serviço pelo resgate pontual, Jimmy está louco por mais missões impossíveis. E o que seu chefe da T.E.I.A (Tropa de Espionagem e Investigação Animal) tem para ele? Trabalho de escritório.

Ei, trabalho de escritório chega a ser impossível, é válido! Como está com uma preguiça miserável, o cabeça do QG ordena ao seu melhor agente que descreva o restante da equipe para o leitor, senão não tem TV hoje! Como são os anos 1990, James não quer perder a TV Colosso e vai pro batente.

E aqui descobrimos quem devemos esperar no restante da revista: 00-77, Hound. James Hound, o cachorro que assistiu filmes o bastante do Bond e absorveu as habilidades espionescas por osmose; Blaster, o belicista que só está feliz numa treta e a única escolha que dará a você é qual arma ele deve usar pra fazer o despacho; EXO, o gênio local, cuja burrice o pôs num exo-esqueleto de supercerâmica (provavelmente roubada do Jiban, que cunhou o termo); CPX, o pastor (alemão). Tem a coleira do Bionicão e é pastor (alemão), você não quer mexer com ele; Kinjiru, o ninja. O resultado do Pequeno Ninja e Shaken usando a FUUUUUSÃO! Lê Confúcio e Paulo Coelho; E Bronto, o dragão de Komodo que não é um cachorro. Mas, o Dino dos Flintstones também não era.

Com todos esses caras, você pensaria que a S.S.I não seria burra o bastante de invadir a área deles.

Sim, eles seriam.

“Tirando o Couro”

Répteis trocam de pele. Dragões de Komodo trocam e reutilizam como cosplay, porque material pra fantasias tá cada vez mais difícil de bancar.

“Surra nos céus”

Ser espião significa sempre estar pronto pra largar o Master System com joguinho de tiro e servir de cobaia do cientista louco. A tralha da vez é um jet pack. Duca! Vem com soldadinhos inimigos pra testar tiro ao calvo? Isso é providenciável. 

“Guerra e Paz”

Depois de largar o James Beluschi em “K-9, Policial bom pra cachorro” por lhe obrigar a morder salsicha, CPX só quer curtir sua mina sem ser incomodado. Todavia, não basta segurar vela, espião inimigo tem de estragar o encontro! Nessas horas, a criatividade é o que conta pra manter a garota!

“00-77”

Velhos hábitos não morrem. Só são enterrados.

“Filosofando”

Kinjiru, o ninja residente, porradeia mooks e dispensa pérolas de sabedoria. Ele deveria andar também com um memorex de ditados populares, só por precaução, porque espionagem ninja não é desculpa pra ignorância!

“É fogo!”

Você não suporta quando interrompem seu banho de plasma radioativo? O Bronto sim. Bem, é pra isso que as coleiras com laser embutido servem.


“Hora marcada para explodir”

No Zoológico, nova casa de Maguila, o Gorila, James e Bronto vêm investigar ameaças de bomba e checar se todos os animais estão nas jaulas. Infelizmente, os políticos, críticos de futebol e torcidas organizadas ainda estão todos soltos. Jim decide perguntar aos seres civilizados se algum nanico da S.S.I. anda com intenções explosivas por aí e obtém uma dica quente! E um encontro, mas, primeiro o dever!

Como há nada como dever, o agente inimigo X-Bacon comunica ao agente Mc Chicken que pendurou o Mc Lanche Feliz com uma bomba de brinde e tá se pirulitando. Até 00-77 insistir que ele fique, conte 1,2,3 e dê um passito pra trás. O maléfico explosivo está escondido na casa dos répteis, no fundo à esquerda...no viveiro de uma simpática dragoa de komodo. Bom para o Bronto! Pensando bem, talvez não...

Comissário Hound põe o cheirador pra funcionar e descobre a bomba. O gato comeu? Se tivesse, ele estaria nem aí, mas, a dragoa papou o "coco" todinho! Se ela sobreviver, o banheiro do zoológico nunca mais será o mesmo. Toca essa droga de helicóptero, James, o coração do Bronto não vai aguentar perder o amor da vida dele! Eles se conhecem por quase quatro páginas!

No Canil da Justiça, as opções são limitadas e o tempo é curto. Kátia, nossa dragoa de coração puro e miolo mole, não faz ideia de que está com assento VIP para uma explosão nuclear! EXO resolve apelar para o método rápido: endoscopia manual. E dá zebra. Laxante ácido? Deu refluxo. Não há mais tempo.

A única coisa a fazer é trancar Kátia no abrigo antibombas e esperar que o que sobrar dê pra fazer um par de sapatos...mas, Bronto não quer sapatos! Ele constantemente vê cães de sapatos! Então, nosso lagarto apaixonado se tranca com sua amada na sala blindada, para virarem dois pares de sapatos no Céu. E se abraçam. Abraçam forte. Digo, FOR...

>Cleng<

Êita, a bomba quebrou de fora pra dentro. Quem diria, santo de casa faz milagre!

Depois de meio capítulo de amor infinito e incondicional, Bronto e Kátia têm de se despedir, pois a turnê dela em São Paulo está acabando, porém, eles nunca vão esquecer seu explosivo romance. Cansado de metáforas com explosões, nosso arroxeado amigo só quer parar de perder a garota toda semana. Calma, escamoso, um dia, a coisa vai. Aproveita o lanche de bordo do helicóptero, é de coco!

COCO!?

Agente Cãofidencial Nº1.

Fonte: Marcelo Cassaro

Eis uma daquelas revistas que quase ninguém ouviu falar, mas algumas pessoas se perguntam porque não durou muito. Digo, Andrea, a Repórter, durou três edições! 

Não foi uma má revista para a primeira com personagens com selo de qualidade 100% Cassaro. Entrevistas aqui e ali e acolá com o autor mencionam Agente Cãofidencial como um "título cedido", com seus primeiros personagens próprios, mas não muito mais. Se a revista foi um experimento, infelizmente, não foi pra frente, mas foi legal pelo que tentou emplacar. 

A estrutura lembra bastante as histórias dos Trapalhões da Abril na época, mas, de um jeito bom. E, com oito historinhas, nada menos! O bastante pra apresentar todos os personagens e o que esperar deles. James é seu herói típico que adora uma aventura, é ágil como um...como um...como um galgo inglês! Ufa, pronto, consegui uma comparação decente e mantive o tema com um inglês! Estranhamente parecido também. Enfim, Hound é aquele protagonista que vive pela ação e odeia amolação, o tipo que movimenta a história, em especial com tema de espião. E, no tempo livre, deve folhear Playdogs da Priscila, mas, longe de mim acusar.

Blaster é a metade milico do Capitão Ninja e incorpora tudo o que um Rambo orientado para uma revista infantil poderia ser...talvez por isso ele não teve sua própria história aqui, o que deve ser uma das poucas falhas da revista. Kinjiro é o lado ninja. Lembra um pouco demais uma versão maior do Pequeno Ninja, para qual o Cassaro escreveu e desenhou algumas histórias, e também onde estreou o Capitão Ninja. EXO é o cientista maluco obrigatório com workshop de invenções, porque de nada servem espiões sem geringonças. CXP tem um primo numa revista dos Trapalhões que descolou uma namorada depois de três tentativas, o que me leva a pensar em crossover. Bronto é o cara legal que está por ali porque dinossauros são legais, mesmo se ele for um dragão de komodo. E os agentes da S.S.I. são clones de 1,99 do Jango Fett com menos da metade da habilidade. Se "Como Cães & Gatos" tivesse continuação, seria isto.

Não vou dizer "personagem tal precisava aparecer mais que personagem tal", porque, no geral, é uma boa revista que com certeza merecia mais de um número. Digo, eu não tolerei nenhuma daquelas histórias com metalianos, dragões com corpos de supermodelos ou superequipe liderada por um ninja de boné, mas, Agente Cãofidencial é uma leitura agradável, sem pretensões e renderia mais do que na verdade rendeu, mas isso só mostra quão selvagem e difícil de agradar é o mercado de quadrinhos. Sobretudo em nosso país.

As entrevistas do Cassaro linkadas mais acima já são datadas, mas mantêm pontos pertinentes. 

Ser escritor e/ou desenhista de quadrinhos e histórias é uma profissão, como qualquer outra, e requer compromisso. Bater metas, cumprir prazos etc. Divulgar o trabalho artístico se tornou muito mais fácil graças à internet (twitter, facebook, instagram ou mesmo um blog como este aqui), então, é trabalhar, refinar sua habilidade e, caso você tenha o tino comercial de um Brandon Santiago (o gringo criador da Erma, que começou fazendo historinhas no Paint!), por exemplo, transforme sua paixão em renda. Lançar um quadrinho pela internet é a coisa mais simples e besta de fazer. Monetizar isso? Outra história, rapaz!

Acho que a melhor explicação é que quadrinho é algo que se faz para viver POR isso, não viver DISSO. Tem que ter a determinação de querer fazer disso uma carreira, do contrário, se é só uma coisa esporádica, é melhor manter assim e procurar outras opções para levar a vida. O público é muito mais seletivo estes tempos e agradar todo mundo é uma meta impossível. Na verdade, é bem deprimente que muitos gibis de linha tenham encontrado seu fim, sem aviso, apesar de que cancelar revistas sem aviso era meio que uma prática comum lá pelo fim dos anos 1980 e no decorrer dos anos 1990.

Pessoalmente, eu alimento o sonho infantil de lançar um quadrinho meu um dia, mas só de 2020 pra cá eu tenho me sentido mais confortável com meu traço. A pandemia me deu muito tempo pra trabalhar constantemente no meu storyboard (e continuo trabalhando) e pretendo refinar e filtrar tudo o quanto puder. Afinal, eu não trabalho para uma editora e tenho o "benefício" de poder trabalhar uma coisa do meu jeito, no meu tempo. Não quer dizer que eu poderia fazer isso se fosse um empregado e tivesse uma meta a cumprir.

Por isso, gente, se algum de vocês pretende se lançar no mercado um dia, não faça isso só porque sonha, faça porque gosta e porque quer que dê certo. E, um dia, você vai conquistar seu lugar naquela selva de quadrados, balões de fala e onomatopéias.

Terminamos.

Mês que vem tem mais!

Feliz Dia do Quadrinho Nacional!

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