Andrea, a Repórter Nº 2

Bom dia! Ou boa tarde ou noite, dependendo de a que horas você estiver lendo.

Aqui estamos, na mesma praça, no mesmo banco, falando de Andrea, a aspirante a prima brasileira da Lois Lane que Aluir Amâncio tentou emplacar no Brasil há exatos 30 anos! A senhorita Andrea é oficialmente uma titia. A maioria daqueles que lembram dela também, mas, detalhes. 

Checando o blog (abandonado) do Aluir (créditos ao Quim Thrussel), o cara realmente tem história na mídia quadrinhística. Desde 1980 ele, como um moleque de 12 anos, perambulava pelos Estúdios Maurício de Souza, anos depois concorrendo a prêmios e mesmo vindo a trabalhar na Warner Bros, na época do desenho do Superman (1995), onde conheceu o lendário Bruce Tim. AQUELE Bruce Tim, que deixou seu nome na história com o igualmente lendário desenho do Batman nos anos 1990! Há uma história engraçada sobre os primeiros dias de trabalho do Amâncio com o senhor Tim, envolvendo sketchbooks e café, mas vou deixar você ler e ver o que acha.

Saber que o Aluir terminou trabalhando com a Lois Lane legítima em quadrinhos do Superman alguns anos depois torna Andrea quase uma profecia. Por ora, vamos continuar a destrinchar a história dos quadrinhos desta não-tão-conhecida repórter e seu peguete fotógrafo.

 


AGORA sim, estamos lendo uma história de Andrea, a repórter! Que trabalha para a Arquivo, a revista. E que está entrevistando um banqueiro interpretado pelo Dedé Santana, só que o Dedé de hoje, pois o de 1991 ainda podia dar cambalhotas no programa dos Trapalhões sem se estrepar todo.

Ele exibe seu banco futurista à prova de roubo, arrastão, frieira e da alta do dólar. O arquiteto desse monumento deve estar muito requisitado. Ou não? Nosso banqueiro saliente quer menos arquitetura e mais criatura. CALMA, Dedé! Diante do assédio e do pé frio do velho, Andrea tenta manter a compostura e o larga antes do almoço. Ao menos, sobra mais para ele e Baiaco, o garçom, que precisa do bico, pois o Trapa Hotel paga uma merreca.

Como pulou o almoço, Andrea decide esticar o expediente e ajudar Maurício de Souza, o Inspetor, em mais um caso. Alguém abriu um rombo no centro de São Paulo e ameaça abrir mais até que a cidade vire queijo suíço! Felizmente, o Guarda Belo já prendeu um suspeito: Al, o fotógrafo. Que trabalha para o Nacional, que não é o Jornal, caso contrário, ele estaria atrás da Patrícia Poeta! Em tempo, Al checou as galerias de esgoto e não encontrou mais bombas, o que significa que nosso malfeitor está avacalhando ou tem outro alvo...

Mais tarde, Andrea nota que esqueceu sua bolsa no restaurante e só poderá reavê-la no banco do Dedé. Dentro do cofre. Onde o cara ainda está esperando para o almoço! Com a porta do cofre fechada, o banqueiro espera que eles possam se conhecer melhor. Andrea concorda e decide apresentar a ele cinco amigos: Mindinho, seu Vizinho, Maior de Todos, Fura-Bolo e Mata Piolhos. Esse tapa vai ser uma explosão!

Êita, foi tão forte que eles afundaram até o esgoto! Viu, Dedé? Pelo menos com o Didi e o Bananinha, você terminava só tomando banho com água ou farinha! Na verdade, é tudo obra do nosso bandido misterioso: Marcelo de Nóbrega, o arquiteto! Ele se ferrou na mão do Dedé, o banqueiro, e decidiu dar o troco com uma versão bombástica do assalto ao Banco Central. Com a polícia presa no engarrafamento do fim da tarde, nada poderá detê-lo! Exceto Andrea, a soldadora! Incrédulo, o arquiteto do mal dá uma gargalhada do mal, porque sabe que ela não pode feri-lo, apesar deste horrível cheiro de gás de cozinha! Para provar seu ponto, ele dá  um tiro pro ar. O que gera uma cadeia de eventos que inunda os esgotos com a água da chuva e leva todo mundo pro ralo literal. 

Vocês não amam esses vilões noventistas que se autoderrotam?

Todavia, o Marcelo aprendeu com seu tempo de redator do Praça é Nossa e sabe contornar clichês! Ele salvou Andrea de se afogar, mas, ela está a sua mercê! Estava, até Al mostrar porque ele calça sapato tamanho 42 e mandar o facínora descarga abaixo. Brutal. Com sorte, o Capitão Feio encontra ele antes de alcançar o Tietê.

Tudo termina bem quando acaba bem, mas Andrea ainda não pode almoçar, com seu vale-refeição dentro da bolsa que continua com o Dedé! Felizmente, Maria de Fátima, a secretária, dá uma força. E também uma colher de chá pro Dedé. Alegria de banqueiro é gastar dinheiro dos outros como se fosse seu. O florista da esquina deve estar na maior alegria!


“Lotação”

Cansado de pegar busão lotado, Rocky decide trocar para algo mais prático e confortável: um fusca amarelo! O carro não deve virar um robô, mas quebra o galho. E amigo é pra essas horas. Calma, Rocky, você pode se tornar motorista de aplicativo e cobrar pela corrida! Só espere 30 anos, quando a ideia, enfim, ocorrer às pessoas.

“Fiu-Fiiiu!”

Bel topa com um curió curião que não para de curiar. Hora de chamar o Rocky de VERDADE! E ele veio com sua fantasia de Rambo! Pontos de coragem pro curião por não arregar pra um cara que treina socando carne no frigorífico, mas, pelo menos, a Bel pode relaxar. Depois de procurar ajuda do Schwarzenegger, porque esses caras da musculação são uns Mercenários!


"Fazendo Cooper"


Rocky decide preparar o filho do Apolo para "Creed 3" com seu método de treino favorito: corrida! Creed Jr. pede arrego em duas páginas. Moral da história: quem tem cão, FAZ cooper! Chamar seu cachorro de "Cão" é muito preguiçoso, mas, quando quer, ele chupa uma manga!


"Um vestido para o baile"

Enquanto Al e Andrea andam no segundo plano, Luci quer abafar no baile e procura um vestido chique, "desses que ninguém tem grana pra comprar". A falha do plano é que ela também não tem. Depois de provar a loja inteira e fazer a ira da vendedora, a loira fica na mão? A mãe da Bel é a solução! Pois toda mãe de quadrinhos tem os poderes de design da Stella McCartney. Agora, as meninas estão prontas para o baile...à fantasia? Bom, elas podem dizer que são a Ladybug e a Queen Bee sem os uniformes.


"Mulher Fatal"

Um ano antes de se mudar para Gotham City e atazanar o Michael Keaton em "Batman - O Retorno", Michelle Pfeiffer vem ao Brasil pra fazer laboratório e ver quanto estrago pode causar na população masculina. Ela é má, cruel e tem cintura de violão! Um penetrante olhar de gato que enfeitiça os marmanjos com tanta eficiência, que ambos capangas e vítimas pouco se importam! Isso não pode continuar!

Na politura de chefalícia, inspetor Maurício precisa de ajuda e chama seus dois melhores repórteres! Eu questiono a eficiência da polícia quando o melhor que eles têm está no setor jornalístico, mas Al e Andrea topam. E se esbarram, brigam e um não vai perder a matéria pro outro. Nosso fotógrafo está meio tristonho com o fato de que a morena não alivia e decide tomar uma atitude. Chega de levar rasteira! Nenhuma mulher o faz de bobo! Até porque, o bobo já está feito, mas é o pensamento que conta!

Seguindo com sua onda de terror, Mulher Gato, com seu olhar 43, assalta mais um trouxa sem a menor resistência. Lembrem-se, garotos, homens devem ser cavalheiros e respeitar as damas, mas não confundam cavalheirismo com idiotice.

Andrea chega na hora de evitar o crime! E os poderes de Michelle não funcionam em mulheres! Ou a repórter é só muito turrona, mas, anos 1990, relevem! Para dar conta dela, a vilã manda seus comparsas, Van e Damme! A garota se vira, até que Al faz uma ENTRADA DINÂMICA! E, como a entrada dele foi melhor, os bandidos decidem cassetear o cara primeiro.

Dois contra um termina a favor do um e Al só precisa lidar com a líder. Oh, esse terrível olhar sedutor... não funciona, porque nosso herói está mais ou menos bem resolvido com sua morena emburrada! Um dia, ela facilita. Desiludida porque sua gostosura falhou, Michelle Pfeiffer termina no Carandiru e, quando sair, vai ser só pra uma ponta em "Vingadores - Ultimato". Viu como o crime não compensa?


Andrea, A Repórter Nº 2.


Um pouco de trívia – Andrea é baseada na esposa de Aluir na época. Sabendo em quem o Al é baseado, isso significa que as três edições foram o autor contracenando com a esposa. Dá uma nova perspectiva.

Esta segunda edição é, disparada, minha favorita das três. E como é longa! A primeira história dá foco quase exclusivo a Andrea, como deveriam ter feito na número 1. Afinal, é a personagem-título. É mais fácil simpatizar com ela aqui, tentando se livrar das investidas do banqueiro (lembrem-se, assédio é crime) e tomando a iniciativa contra o bandido. Sim, o Al ainda precisou vir ao resgate, mas isso não diminui em nada o mérito da repórter. Há problemas dos quais não se pode sair sozinho e eu gosto quando isso é retratado, em vez de tornar o personagem, feminino ou masculino, capaz de resolver a pendenga por si só.

Eu falei antes da estrutura "Turma da Mônica" das histórias, mas, ao invés de atrapalhar, terminou sendo um bom diferencial. Temos histórias curtas, mas simpáticas com a Turma do Rocky, conhecemos os personagens e nenhuma página é desperdiçada. Andrea e Al têm seu espaço, Rocky e companhia têm o deles. O problema do tom persiste, onde as histórias da heroína da revista são geralmente mais sérias (e nesta edição, um dos bandidos morre) e as do elenco de apoio, mais bobinhas e infantis. 

Acho que terminou sendo influência do mercado de gibis da época ser dominado pelo gênero infantil. O Amâncio fala disso em uma entrevista que deu para o Rodrigo de Góes em 1995, publicada na revista "Master Comics #3". É, aquele Rodrigo de Góes, que trabalhava na fantástica revista do Jaspion e várias outras. Deus o tenha.



Fonte: Aluir Amâncio.

Interessante como ele comenta sobre ter de adaptar o estilo para os infantis. O estilo é a marca do artista, pra dizer o mínimo, e como as publicações do Maurício têm uma arte padrão e simplificada (as publicações principais, pelo menos), contudo, para as histórias da Tina ou do Astronauta, o Aluir tinha maior liberdade. Então, pegamos as revistas Disney, nas quais ele também trabalhou, e os desenhos eram mais complexos. É, não tinha um meio termo.

Essa entrevista só me confirma algo: o cara passou por quase cada quadrinho possível que cheguei a ler na infância e adolescência! Isso era ritmo de trabalho de desenhista japonês! Vendo agora, o Batman e o Seninha entram no currículo. E os Cybercops, mas eles terão seu próprio post, prometo. Em se tratando de uma entrevista datada, dá para ver que algumas coisas mudaram muito em 26 anos. Autores de quadrinhos conseguem lançar trabalhos independentes esses dias, porém, a maioria é pouco conhecida e depende de patrocínio de sites como o Catarse.

Viver de arte não é fácil. Por outro lado, se você produzir MUITO, sua hora acaba chegando.

Terminamos por hoje. Na próxima, a terceira e última edição da Morena Emburrada!

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Almanaque dos Cybercops

Khin, O Pequeno Samurai # 1

Agente Cãofidencial Nº1