Primeiro ano, primeiro post!
Um feliz ano novo para todo mundo!
Então, 2021, aqui estamos. Depois de um 2020 tenebroso, 2021 poderia começar um pouquinho melhor pra todo mundo e isto me levou a este blog. Bom, o título já foi pista o bastante?
Um blog sobre quadrinhos, a 9ª arte, etc e tal, vocês já entenderam. Diferente de todos os outros? Sei lá, provavelmente não. Mas, depois de ser leitor de gibi por tanto tempo, achei que podia tentar falar deles, mas vou começar com um tema específico: quadrinho nacional. É, não temos muitos, não é mesmo? Bem, nós tínhamos.
Um dos meus passatempos ano passado foi sair garimpando atrás de quadrinhos antigos, alguns da minha infância, outros que nem cheguei a ler na época, mas focando em material nacional, que muito pouco se vê em bancas, fora, na maior parte, os da MSP (que adoro, só pra esclarecer). A coisa é, anos atrás, pelos idos de 1980 e 1990, haviam muitas "revistas de linha" nas bancas. Mais do que hoje. Revista de Linha é como se chamam as publicações para todas as idades e havia muito material nacional nessa época. Pouca coisa não, MUITA. Ir numa banca era como ir numa sorveteria: Você via uma revistinha da Mônica, acabava passando por uma dos Trapalhões, da Xuxa, da Turma do Arrepio...se bobear, até do Chaves e do Chapolin! Época boa! Mas, acabou. A memória fica.
E, graças à internet, o registro também. Começando hoje, vou resenhar algumas publicações da época em que tive o prazer de pôr as mãos recentemente! Quem é coroa hoje vai reconhecer, quem não for, fique à vontade! Eu li em algum lugar, algum momento, que resenhar quadrinho é a coisa mais chata do mundo. Vou tentar não fazer isto tão chato pra você, que está lendo. E, pro post de estreia, vamos tirando do fundo do baú, direto de 1991, a primeira edição de...
...Al, O Fotógrafo!
"De Olho na Gata!"
Chegamos a uma festa grã-fina, cheia de personalidades dos anos 1990. O Faustão resolveu tirar uma folga do Domingão, a Hebe ainda estava viva, o Jô não estava às 11:30, o Tarcísio veio sem a Glória e o Clark e o Peter (ou seria o Jaspion?) acharam uma boa ser parte de uma festa num gibi tupiniquim. Nosso destemido e não-convidado fotógrafo Al suborna o guardinha, entra de penetra e faz o que qualquer convidado famoso faria: enche a mão de salgadinho e a caveira de champanhe. Até aí, tudo bem, até que...
...ele vê uma morena. Ela sorriu. Pelas regras dos anos 1990, isso significa que ela está a fim dele. Não sei quem escreveu essas regras, mas nunca deve ter saído com uma mulher na vida. Fim de festa e Al esbarra com a morena e seu vestido hermeticamente lacrado. Ela veio dar o telefone?
Não, veio dar um gelo, mesmo. Por ora, vamos chamá-la de Morena Emburrada. Apesar da esfriada, nosso fotógrafo decide tirar uma foto de recordação e levar pra revelação. Porque, sabe, celular ainda era uma coisa muito distante. De fato, ele nota uma coisa...e decide stalkear a menina, porque, uma hora, vai que rola. Se fosse hoje, a garota chamaria a polícia e tacaria o cara na cadeia...
Oh. Ela trouxe Hubert, Reinaldo e o Maurício de Souza! Ok, isso é progressivo, 1 a zero pra Morena Emburrada. Ela é uma repórter famosa, por sinal. E agora, como Al sairá dessa? Morena Emburrada volta para a redação de seu jornal. Virou a noite, mas como já foi de pijama, não vai ser um problema quando chegar em casa. O problema é que, na volta, o stalker contra-ataca, seguindo de perto em seu chevete azul! Podia jurar que o Al tinha uma moto, mas tudo bem. Cansada de lidar com carrapato, Morena Emburrada tenta despistar o cara quando nota que...não é o nosso herói. Faz sentido? Talvez. Perdeu tempo sendo veloz e furiosa e acabou batendo violentamente em um arbusto! Uma família de arbustos acaba de ficar órfã!
Todo o tempo stalkeando a morena era na verdade Al colhendo pistas dos Bandidos do Carro Azul! Inspetor Maurício confirma. Nosso fotógrafo passa um sermão na morena, pois se ela fosse menos emburrada, nada disso teria acontecido. Se fosse perto do prédio azul, os detetives não teriam deixado essa passar. OUCH. Agora, menos emburrada, a morena dá uma colher de chá. Mas, o Al prefere um jantar, porque a comida da prisão tem gosto de meião.
"Prefiro como antes"
Mudando completamente de tom e de elenco, vemos a Alex, de Três Espiãs Demais, lendo um livro. Depois de ficar de saco cheio do Zordon, Rocky resolveu dar um rolê no carro da Alex e veio devolver. Podia ter feito o favor de deixar o carro na garagem em vez de atravessar a trolha da sala, mas, é nisso que dá dirigir zords em vez de carros. Mas, ele pelo menos aprendeu mecânica com o Billy!
"Prisioneiros do Amor"
O jantar terminou e o Al se deu bem? Nem, isso foi só a Morena Emburrada tendo um sonho esquisito, depois que nosso fotógrafo pagou mico no restaurante, mas não a conta! Que pilantra! Ela admite, estar com ele deixou ela menos emburrada... até ela pegar o cara conversando com a melhor amiga dele sobre como a Emburrada é incrível. Lembrem-se, meninas, homens são cafajestes, mas também têm amigas que são só amigas. Para uma repórter, a Morena não foi muito a fundo na história...
"Fazendo Ginástica"
"Amigos, Amigos..."
Al e a loirinha Dé são amigos do peito! Pra fúria tranquila da Morena Emburrada, tem muito peito envolvido nessa história. Ela passa reto, mas nosso atrapalhado fotógrafo não quer perder sua quase-futura-ex-namorada e vai lá explicar que o broche da loirinha ficou preso na camisa dele. Isso é nível "o cachorro comeu meu dever de casa", mas, sim, acontece. Tá, Al, agora explica isso pro noivo de dois andares da Dé, porque ele já não vai com a sua cara. Morena Emburrada fica emburrada³, porque ninguém inflige trauma físico no "namorado" dela! Exceto ela mesma. Deu tão certo que até o Al acreditou! Entre um beijo e um tapa. Não se preocupa, cara, ela ainda volta correndo atrás de você, nem que seja pra dar outra bolacha.
E isso é tudo da primeira edição de Al, O Fotógrafo!
Piadas a parte, essa foi a primeira edição de Andrea, a Repórter, criada em 1991 pelo Aluir Amâncio. Para quem não conhece, o senhor Amâncio trabalhou por alguns anos para os Estúdios Maurício de Souza e foi responsável, entre outras coisas, por adicionar mais curvas à Tina, que foi adolescente por tanto tempo quanto a Turma da Mônica foi criança. Depois de passagens por várias publicações, incluindo as revistas dos Trapalhões, os três primeiros números da revista do Jaspion (1991) e algumas edições da Heróis da TV (1992-1993), ele fez carreira no exterior desenhando histórias do Superman (baseado na animação de 1995) para a DC e, hoje, é um storyboarder famoso que trabalhou em várias animações, incluindo Jovens Titãs e Ben 10. Até lançou uma HQ (des)conhecida em 2016 chamada Perigo no Circo Sombrio. Nada mal, hein?
Andrea foi uma tentativa do Aluir de decolar uma personagem independente, querendo conquistar o público jovem da época, que não tinha muito além das revistas para o público infantil e os heróis da Marvel e da DC. Segundo o "La Dolce Vita", era para ser bimestral, mas a Editora Abril cresceu o olho depois que a primeira edição vendeu bem e mudou para mensal. Isso meio que ferrou com os planos do seu Aluir, que estava sempre cuidando de múltiplos projetos + problema na mão, portanto, não passaram dos três números.
Agora, sobre a edição. Bom, eu chamei de "primeira edição de Al, O Fotógrafo" por uma razão. Talvez seja porque eu não li isso na época e só pude ler realmente este ano, nos meus garimpos pelo Facebook, então, nostalgia não tem jogo comigo aqui (vou deixar isso para outra revista). Eu senti que, apesar de tudo, a Andrea não é realmente o foco na primeira edição. Isso é corrigido nos dois últimos números, mas, neste primeiro, passamos um bom tempo conhecendo o Al. Ele é debochado, mulherengo, encrenqueiro, meio panaca, intrometido e não tem ideia de quando pisa na bola. Resumindo, ele é a diversão do primeiro número. A Andrea? Bom, ela é uma repórter profissional sexy e perpetuamente...emburrada. Sério, não tem muito mais. A edição dois tem uma história muito melhor com ela, mas essa fica para outra ocasião.
Quanto às histórias do elenco de apoio, "Rocky e sua Turma" são basicamente a Turma da Tina com outros nomes. Rocky é o Rolo com um penteado melhor, Bel é a Tina, mas sem o óculos sexy, Luci é a Pipa depois do SPA etc. É "uma turminha divertida de adolescentes descolados que se mete em altas confusões" e, se eu tivesse de ler mais termos no diminutivo, como na apresentação deles na página quatro da revista, eu não chamaria isso de história pra público jovem.
Nem em 1991 a gurizada pré-adolescente iria querer ser chamada de "turminha", imagina caras e garotas de 13 pra 17 anos! Apesar disso, os personagens são divertidos o bastante, mas desconectados da personagem-título da revista. O que não é ruim, mas há uma mudança de tom bem óbvio entre as histórias da Andrea e as do Rocky.
As coisas provavelmente teriam se desenvolvido mais se tivesse passado da terceira edição, porém, jamais saberemos.
Falando do positivo, a revista foi uma ótima iniciativa e um sopro de ar fresco na época. Personagens distintos, alguns clichês e padrões, estrutura e traço familiares da equipe do Maurício de Souza, vivendo histórias contadas de maneira simples. A simplicidade dos anos 1990, senhoras e senhores. Além disso, a tentativa de aproximar o traço do estilo mangá torna Andrea, a Repórter, uma pioneira, algo que a MSP só faria anos depois, com a Turma da Mônica Jovem e o Chico Bento Moço. Nosso primeiro mangá brasileiro e, de certa forma, totalmente não reconhecido como tal. Inovador, mas ainda tradicional. Que coisa, não?
Mas, vou deixar todo mundo tirar suas conclusões. Bora baixar?
Sim, pretendo falar de e postar os números dois e três também, fique ligado. Terminamos nosso primeiro post! Voltamos a qualquer dia, a qualquer hora, com mais papo de revistas antigas que você pode conhecer ou gostar de conhecer.
FUI!
Muito bacana o resgate e a matéria! Trabalhei na Abril Jovem na época em que o Aluir Chegou oferecendo esse projeto. Considero-o um dos nossos mais talentosos desenhistas na linha estilizada e cômica. Amâncio também desenhou muitas HQs Disney, Como Zé Carioca e Hércules.
ResponderEliminarAl era realmente o alter ego do criador, sintetizado até no nome. Andrea foi inspirada em sua esposa na época que, se não me engano, também tinha o mesmo nome.
Obrigado, Gustavo, sua opinião significa muito! Lembrei das conversas no Face sobre o fim das revistas de linha enquanto escrevia a introdução, foi muito inspirador. Não sabia que ele havia desenhado revistas Disney também. Vivendo e aprendendo!
EliminarBom ver o amigo fazendo resenha de novo. Autores se auto-inserindo nas histórias acontece até com os famosos. Vide o pessoal que comenta que o Terry Long, marido da Donna Troy nos Novos Titãs do Marv Wolfman se parecia com o próprio roteirista.
ResponderEliminarQuando não se inserem diretamente, eles tendem a favorecer MUITO o personagem favorito. Vide o Brian Bendis com a Kitty Pryde ou o Dan Slott com o Otto Octavius.
EliminarEu vou fazer resenhas com menos frequência que no blog antigo, mas vai sempre ter algo novo por aqui.