Resenha - LIZ
Boas tardes, pessoas! A vida segue e não há tempo a perder. Se vai perder tempo, perca tempo lendo um livro, que faz bem pro cérebro e pra alma, ou um quadrinho, que faz bem...se você evitar os fandoms e ignorar o número infinito de estrume que empesteou a Marvel e a DC nas últimas duas décadas.
E que deve continuar, mas, gosto há para tudo!
Chego com mais uma resenha, mas esta aqui remete um pouco ao começo da minha paixão por quadrinhos, quando... Isso é conversa de velho, vai demorar e vai ficar pro final. Primeiramente, o quadrinho de hoje. Desta vez, será a LIZ!
Você pensou em outra Liz, não foi? Falamos dessa depois, acima está a original!
Esta aqui é a capa da primeira versão, um pouco menor, a que eu consegui foi a reimpressão de 2014, maiorzinha. Liz é uma personagem diferente da maioria, mas não tanto. Uma criança que tenta fazer sentido com as coisas que os adultos explicam (mal), tem uma imaginação ativa e pode fazer um dia inteiro valer por um mês de férias? Esse seria o Calvin, mas é uma boa inspiração.
As tiras focam no dia a dia de uma menina e sua convivência com seu pai, o quadrinhista que desenha amebas high-tech steampunk, e com a mãe, a professora de inglês que tem de dar uns puxões de orelha no marido, antes que ele a deixe surda de tanto ronco à noite!
É também uma via de mão dupla: enquanto a Liz vê o mundo e lida com a sem noicice do papai do jeito dela, o pai ilustra como é criar uma menina hiperativa que quer estar por toda parte. Na maior parte do tempo, é como desenhar uma história e tudo começa com uma ideia louca que, por acaso, funciona. E um pequeno aprendizado se tira quando a inocência de uma criança revela que a vida sempre tem uma coisa melhor pela frente.
Vamos só dizer que "Existem coisas legais na vida que não precisam fazer sentido". Entendedores entenderão.
Eu tenho um carinho muito grande por essa versão da Liz, onde o humor e as expressões caricatas eram mais a norma. Não que a versão atual da personagem não tenha seus momentos, mas aquela criança que ela foi um dia tem um charme difícil de esquecer. Não há muito mais o que dizer sem conferir as tirinhas você mesmo.
Não tem link pra baixar, mas, no Instagram Os Mundos de Liz, estão upando as tiras aos poucos. Vale a conferida!
Eu meio que tenho uma bela história sobre como conheci o autor e os colegas dele, quando eu sabia nada de quadrinhos ou da vida. Ainda sei nada dessas duas coisas, mas, vá lá.
Nisso, eu recebo um papelzinho falando sobre um estúdio de quadrinhos oferecendo cursos no centro da cidade, no começo da noite, depois da escola. Eu odiava esse horário, porque, depois de 6 a 7 horas de escola comum e colegas chatos do caramba, fora toda aquela pilha que botavam na minha cabeça sobre vestibular, a ÚLTIMA coisa que eu precisava no meu dia era MAIS uma aula. Mesmo uma sobre quadrinhos. Porém, minha fixação falava mais alto e fui pra cima!
Eu pensava que seria um curso de desenho. Eu precisava muito, o meu traço naquele tempo era um desastre, mas o curso era de quadrinhos. As pessoas têm de desvincular a ideia de que desenhar bem é igual a fazer quadrinhos, o fato é que as duas coisas melhoram à medida que continuamos a fazer. Tínhamos três professores: JJ Marreiro, Geraldo Borges e o Daniel, os três em começo de carreira, mas óbvio que sabiam mais que muitos de nós ali e atuavam na indústria há um tempo.
Quase não víamos o Geraldo lá, o JJ e o Daniel eram os titulares e muita coisa coisa que não sabia me deixou de boca aberta. Aulas divertidas e um refresco no meio da secura de imaginação e pressão sobre o que fazer da vida. O Daniel era o cara, por dentro de toda a teoria e prática.
Lá no curso, aprendemos o básico dos quadrinhos, minha turma chegou a fazer um fanzine, o Quazine (não passou do primeiro número e minha história ficou uma droga) e, principalmente, ficamos sabendo quão carne de pescoço é o mercado de quadrinhos, em especial no Brasil. Hoje em dia, não deve estar fácil pra nenhum país, com histórias online e publicações independentes de TODOS os bons e maus gostos. Garimpando, você encontra surpresas agradáveis no meio de um mar de sem-noção.
De lá para cá, não sei o que aconteceu, mas o estúdio antigo fechou, o Daniel tem seu próprio estúdio, um currículo extenso, com passagens pela DC, Marvel, Dark Horse, MSP e, sei lá, talvez pelo Capitão Rapadura também. É muito bom saber que alguém que foi meu professor ainda está lá fora, fazendo a vida com o que gosta, ajudando outros a se descobrirem na profissão e, quem diria, tornou o amor pela sua filha uma de suas melhores obras!
Há um bom tempo, a velha LIZ novinha cresceu e a obra passou a se chamar Os Mundos de Liz. Com tiras lançadas diariamente, ambos em Instagram e no Twitter do Daniel, as histórias não têm tanto do humor da original, mas o espírito continua lá, de uma forma mais madura, introspectiva e reflexiva. Histórias sobre pessoas de todas as idades. Histórias sobre como a convivência com as pessoas muda e evolui sua forma de ver o mundo e te ajuda a enxergar outros mundos, mesmo o da sua própria cabeça.
E não é disso que quadrinhos se tratam? Explore mundos, mas não perca de vista o seu próprio. Ah, também tem história sobre como o Daniel reclama de pagar as contas, mas essas eu vivencio aqui em casa, mesmo.
Estou mais perto do que longe de lançar um quadrinho meu estes dias, mas vou fazer de tudo pra que saia BOM! Acho que isso é o que conta.
Aqui vamos, pessoal. Semana que vem, último número de Khin, o Samurai Sinforoso!
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